sábado, 8 de janeiro de 2011

Guiné, o Ex-Vietaname africano (Companhia de artilharia 1660)

Depois de fazer a recruta em Vila real, a especialidade de artilharia em Penafiel e o IAO no Guincho(Cascais), embarcamos a 7 de Feveiro de 1967 para a Guiné onde a companhia 1660 desembarcou a 11 desse mesmo mês.


Ao chegarmos a  Bissau o pessoal da minha companhia sentiu pela 1ª vez o cheiro típico a terra queimada, aquela terra vermelha típica de terras Áfricanas.


Logo após o desembarque recebemos a notícia de que iamos ficar destacados em Mansoa e de seguida alguem nos confidenciou que Mansoa era nem mais nem menos que um local de extremo movimento bélico........


Subimos para as viaturas e logo à chegada a essa vila de Mansoa, sentimos-nos tristes e desmoralizados ao ver a alegria do pessoal a quem iamos render e que era a Companhia nº 816 (Lobos do OIO). Os seus elemetos encontravam -se sorridentes aos pulos em cima das suas viaturas, tirando as fotos de despedida afim de momentos depois seguirem para Bissau para embracarem para a metropole  no próprio navio de onde tinhamos desembarcado pouco tempo antes.


Ficamos adidos ao Batalhão 1857 que actuava nas temíveis zonas de Sarauol, Locher, Changalana, Cobonje e por vezes tambem em Morés.


Não foi preciso muito tempo para que o meu plotão fosse batizado de fogo.

Uma semana após, quando fomos em viaturas buscar uma companhia que vinha da mata do Locher, fomos emboscados a cerca de 6 Kms do Jugudul na estrada esta que liga as localidades de Mansoa e Portogol.


Aqui, tivemos a oportunidade de conhecer finalmente o amargo sabor da guerra, ao ver um ferido pertencente á companhia 1420 ou 1421(salvo erro) a qual tinhamos ido escoltar.

Ao ouvir os primeiros tiros, pensamos que ainda estavamos nos treinos do IOA no Guincho, só passados momentos verificamos que ali, as balas não eram de madeira mas sim  de chumbo envolvido em metal de  latão....


Um mês passado, nova emboscada na zona do Alto Namedão, onde um elemento da nossa milicia que ia à frente da coluna, foi atingido por uma roquetada que lhe arrancou o cinto e cartucheiras indo rebentar atrás de si sem lhe causar qualquer ferimento.


3 semanas e eis que rebenta uma mina na segunda viatura da companhia quando iamos a caminho de Portogol. Vários feridos e um  furriel morto, que ia ao lado do nosso motorista.


Um mês depois estavamos no quartel, ouvimos um grande estrondo na estrada Mansoa-Portugol. Vamos de imediato ver o que se passava e deparamos com um Hanimog destruido com vários pedaços de pernas espalhadas no terreno num raio de 100 metros e ainda com a bota calçada. Tinha sido devido a mais uma mina anticarro que tinha rebentado numa viatura da companhia do batalhão onde estavamos agregados. Vários mortos e feridos.


Uma semana depois, um  patrulhamento ao Sarauol. no lado de lá da  bolanha, entre Cutiá e Sarauol, o soldado Aradas repara num fio de aço ao lado da picada, fio este que estava ligado a uma granada defensiva. (armadilhada), a qual foi desmontada pelo nosso furriel, Farromba.

Recordo que para essa operação tinha sido chamado à ultima hora um soldado  que não era previsto sair nesse dia. Curiosamente, esse mesmo soldado, que tanto se lamentou por ter sido nomeado para essa operação e que, a caminho do objectivo ia a rezar de  terço na mão para que nada de mau lhe acontecesse... foi esse mesmo João o unico morto em combate quando a companhia se encontrava estacionada em circulo dentro da mata do Sarauol. Foi atingido por um estilhaço de morteiro 82 que passou por baixo do tronco de uma árvore caída no solo atingindo-lhe a cabeça quando este estava  a meu lado deitado atrás do tronco da árvore.



15 dias depois, fomos até perto da temível mata do Locher em viatura afim de trazer uma companhia que vinha de uma operação no local. No momento em que chegavamos ao local onde nos deviamos encontrar com a companhia 1420, estava ainda essa companhia a fazer fogo sobre o acampamento IN . Minutos depois pouco antes da 1420 se encontrar com a nossa companhia, sofre uma emboscada já muito perto do local onde nos iria encontrar.

Casualmente e sem se aperceber disso, o inimigo montou a emboscada à 1420 numa zona em que  a minha companhia (1660)estava precisamente emboscadoa à espera da companhia 1420. Assim, o IN ao fazer fogo para a 1420 que vinha da sua casa de mato, acabou por ser fustigado por trás e pela frente através da resposta imediata da companhia 1420 e de nós cart 1660 tendo permitido a mim próprio alvejar com sucesso um militar do PAIGC que se encontrava a disparar contra a companhia que vinha do objectivo. Este IN estava empoleirado no cimo de uma árvore com uma arma kalasnikov(costureirinha) que não chegmos a capturar porque entretanto a companhia 1686 já estava junta de nós para seguirmos na direcção de Mansoa. Fica para a história uma cena passada quando disparavamos para o In, pois um cabo do meu pelotão viu-se com a arma encravada e ficou em pânico tendo sido eu a desencravar-lhe a G3 com a minha faca de mato e foi já com a arma dele desencravada que atingi o tal elemento IN já que a minha arma de tanto fazer fogo o seu cano já estava em brasa e quase a não conseguir disparar e eu tambem já tinha poucas munições.


Uma paragem no caminho para descansar e eis que ; o Aradas, (rambo à portuguesa), olha  em frente na picada e vê um grupo IN a cerca de 200 metros saindo da estrada e infiltrando-se na mata. Todos levantamos para continuar a marcha na direcção de Mansoa.

Sózinha à frente da coluna e a cerca de uns 100 metros de distância do segundo militar da coluna, ele aproximou-se sozinho do local onde os guerrilheiors se tinham emboscado ao lado da estrada.

Dispara sobre o IN  provocando de imediato um arraial de fogo dos dois lados das tropas conseguindo  o Aradas, minimizar os danos já que desta forma não fomos apanhados de surpresa pelo IN. Mesmo assim tivemos um morto pertencente a uma companhia do Batalhão 1912.


Após uns seis meses de comissão, calhou ao meu pelotão ir para o destacamento do Jugudul, o qual não possuía abrigos porque se supunha que o inimigo nunca o atacaria por ser uma ex-escola. Mais tarde depois da nossa substituição no Jugudul, este destacamento haveria de ser atacado fazendo vários feridos a quem lá estava destacado e com um morto do lado N do qual falarei mais adiante.


Do Jugudul fomos destacados para a ponte de Braia por 2 meses e daí voltamos para Mansoa para continuar a parte operacional.

Estavamos praticamente a meio da comissão.


De novo em Mansoa, quando certa madrugada o Jugudul era atacado.

Na manhã seguinte o meu plotão foi lá fazer o reconhecimento e encontramos o municiador de metralhadora IN deitado no chão morto de costas e enrolado num pente de balas de alto calibre, atrás de um monte de baga-baga.


Pouco tempo depois, a companhia 1686 pertencente ao batalhão (1912) que entretanto tinha substituido o Batalhão 1657, fez um golpe de mão na mata de Tenha-Locher e no regresso sofreu uma forte emboscada mesmo na bolanha junto do acampamento do que resultaram vários mortos e feridos, tendo lá ficado abandonado morto um soldado milicia que era o melhor guerreiro que tinha esse batalhão.


Uma semana passada somos acordados por volta da meia noite tendo o nosso capitão dito na formatura que se seguiu, que teriamos de ir destruir por completo o acampamento turra onde uns dias antes tinha havido todos aqueles mortos e feridos, no Locher.


Foi um problema para a nossa saída do quartel. Pertencia  ao meu plotão ir à frente da coluna para o objectivo e, o nosso alferes comandante de plotão e mais um cabo da minha secção, entraram em pânico e isso provocou que o CMDT de companhia pedisse voluntários para ir à frente sempte que houvesse operações de assalto a casas de mato.

Acabei por me incluir nesse (voluntariado....).


Chegamos ao Locher, entramos na mata  por volta das 4H30 da madrugada. Seguimos por fora da picada cortando ramos de arvore para conseguirmos passar  de forma a evitarmos a sentinela IN,

Finalmente entramos no acampamento. Estava abandonado de forma que, restou-nos destruir (queimar)as casas de mato. Regressamos  ao quartel sem qualquer contacto com o IN.


Uma semana depois,  mais um patrulhamento na zona de Ga Fará já perto de Morés, na operação (estrela do norte). Eu ia em 2º lugar à frente da coluna juntamente com a milicia.Encontramos uma casa de mato com vários guerrilheiros a fugir, disparei atingindo um deles tendo-lhe capturado a sua arma, (Kalasnikov)., Recordo a sorte em que a caminho de Ga Fará encontramos uma armadilha no caminho a qual não seria detectada  se acaso a minha companhia tivesse saído de noite como estava previsto o que não veio a acontecer porque o pessoal se atrasou. Tinhamos levado um raspanete do capitão por nos termos atrasado mas Isto permitiu ter chegado  era ja dia ao local onde se encontrava a armadilha que acabou por ser visivel  depois desmontada.


Pouco tempo depois fomos passar cerca de um mês ao Olossato, arredores de Morés.

Num patrulhamento com emboscada, ferimos um elemento IN capturando-lhe a respectiva arma, sendo esse elemento transferido para Bissau onde foi curado ao joelho ficando por lá como guia das nossas companhias de comando.


Regressados do Olassato a  Mansoa, fizemos um golpe de mão perto de Uaque local onde se acoitava um grupo IN que na altura montava minas anticarro na estrada mansoa-Bissau.

O acampamento estava desabitado, pois antes de lá chegarmos o IN já tinha de lá fugido excepto o seu enfermeiro que não tinha tido tempo de fugir com os companheiros e se encontrava a dormir tendo-lhe sido capturada por mim e um soldado milicia a arma e a bolsa de enfermagem.


mais uma ida à zona do Sará fazer uma emboscada para tentar apanhar na fuga o inimigo que tinha sido  surpreendido num golpe de mão por parte da do Batalhão de Mansabá.


Finalmente o meu plotão foi destacado para Cutiá.

Numa ida em viaturas a Mansoa, fomos emboscados em Sansanto tendo o Aradas e eu, feito o reconhecimento à mata, após a emboscada. Estivemos perto de capturar um elemento IN ferido o qual só não foi capturado por minha culpa ao pedir ajuda ao Aradas para me ajudar a localiza-lo já que eu tinha ouvido os seus gemidos ali por perto. Pla vida fora, rrependi-me de ter chamado o Aradas pois penso que sózinho eu teria capturado não só o guerrilheiro mas tambem a sua arma.

Este, acabou por deixar de gemer e não o conseguimos encontramos encontrar no capim porque tinhamos pressa de continuar a viagem nas viaturas para ir a Mansoa.


Na semana seguinte tudo nos correu pior, pois quando iamos de novo a mansoa abastecer, seguiamos em 2 viaturas uma delas rebocando a outra por avaria.

Iamos a cerca de 20 Km/hora e eramos alvos faceis.

No preciso local de uma semana antes, fomos de novo emboscados e na viatura onde eu seguia, houve vários feridos e um morto pertencente ao plotão de morteiros que com nós se encontrava estacionado em Cutiá.




Por fim, fomos passar  os ultimos 3 meses a Bissau de onde embarcmos  finalmenmte para Portugal ao fim de 22 meses de Guerra acesa e encarniçada na Guiné.


Numa opinião final, o que mais me custou na Guiné n ão foi propriamente a guerra em si mas sim a sêde que lá passei. Água de péssima qualidade que tinha de ser desinfectada e filtrada, ordenado pequeno quando comparado com o que ganhavam na altura em Angola ou Moçambique. Só mais tarde o Gen. Spinola conseguia que os militáres da Guiné ganhassem o equivalente aos companheiro de Angola e Moçambique. nessa altura já tinhamos regressado.


Aos militares, (herois de algibeira que temos hoje), àqueles militares mimados que hoje vão passear vão apenas 6 meses para o Kosovo apenas  ou paquistão acompanhados de jornalistas e mimados que nem bebés, com direito diário e gratuito a falar com seus familiares por internet  com vídeo e ganhando chorudos ordenados, a esses nem lhes passa pela cabeça o que os seu progenitores passaram na guerra da Guiné Bissau onde sim, a morte os espreitava em cada esquina ou atrás de cada árvore ou monte de baga-baga naquelas temíveis matas mesmo ali ao lado pertinho dos nossos quarteis..


Sem comentários:

Enviar um comentário