sexta-feira, 1 de julho de 2011

OIO. Patrulhamento na Mata de Morés em Janeiro de 1967.

Depois da CART 1660 ter permanecido em Mansoa desde a data da sua chegada à Guiné em inicios de Fevefreiro de 1967, eis que, a companhia é destacada para o Olossato afim de fazer alguns patrulhamentos na mata de Morés durante um mês e tal.

Certa madrugada por volta das 4 horas da madrugada, deixamos o aquartelamento, atravessamos a pista de aviação da zona e eis-nos embrenhados na mata a caminho das proximidades da temivel zona de Morés.

Caminhamos vários kilómetros em patrulhamento, acabando por ficar emboscados em (meia lua) numa mata perto de zona descampada tipo bolanha seca a uns escassos metros do trilho usado pelos guerrilheiros do PAIGC.

Surge então uma avioneta por cima de nós a dizer que avançassemos um pouco mais em frente, isto perante a nossa rebeldia onde pragejavamos em coro que o coronel que lá andava em cima, se acaso estivesse cá em baixo, não iria concerteza cometer o suicídio de com  apenas uma companhia querer entrar naquela zona sagrada para os PAIGC.
Alem do mais, a avioneta estava a denunciar a nossa presença.

No entanto, logo após esta se afastar do local e quando nos preparavamos para avançar um pouco mais, isto eram cerca das nove horas da manhã, surgem dois guerrilheiros armados de espingarda Kalasnikov de alça em tiracolo, vindos de dentro da mata caminhando no trilho e  entrando na tal zona descampada (zona de morte).

O meu plelotão, abre fogo de rajada sobre eles. Um cai fulminado pelas balas largando a arma, enquanto o seu companheiro tenta fugir agarrado a uma perna cocheando, cocheando, sendo de imediato abordado no sentido de se afastar da arma que trazia e que levantasse as mão no ar.

É de imediato capturado, levado em maca para os arredores e posteriormente evaquado de Helicoptero.
Foi entretanto durante este tempo de espera  que elementos nativos da nossa milicia insistiam para que o homem não fosse evaquado e que eles próprios se encarregariam de o fuzilar ali mesmo....

Não concordei e dei disso conhecimento ao nosso CMDT de companhia ali presente o qual deu de imediato ordem para que fosse evaquado alegando que já tinha mandado chamar o  helicoptero para o levarem para Bissau.

Durante este tempo de espera, aproximei-me da maca onde este se encontrava, perguntando-lhe em bom português o que fazia ele e o seu companheiro por ali....
Respondeu em creoulo mas entendi bem o que disse quando repetiu insistentemente (filho da p... do Amilcar Cabral.  F..... da p... do Amilcar......).

Óbvio que a sua intenção ao dizer aquilo, seria tentar escapar com vida e, consegui-o!
Chegou entretanto o heli, e lá foi ele na direcção do Hospital de Bissau. Posteriormente foi muito útil às companhias de comandos e paraquedistas que se serviram dele como guia nas suas  diversas  OP na mata de Morés.

O curioso no meio disto tudo, é que passado cerca de um ano, quando o meu pelotão se deslocou de Mansoa à piscina de Nhacra para tomar uma banhoca e beber daquela água que já não estavamos habituados a beber... pois não precisava de ser filtrada, acabamos por lá encontrar o nosso ex-guerrilheiro preso em  Morés.

Era um rapaz feliz dando enormes mergulhos do trampolim mais alto da piscina. Recordo que tentei imita-lo mas acabei por provocar uma pequena lesão na cabeça quando bati com ela no fundo da piscina. Mas nada de grave.
Fiquei mesmo assim imensamente  feliz por ver este rapaz alegre ao lado dos nossos companheiros, nesta altura tambem companheiros dele, os comandos de Bissau.

Jorge Lobo

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